Litterae et una vita et idem.

A Literatura e a Vida são unas!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

os cauteleiros de são bento


(ensaio de uma crónica com morte não anunciada mas previsível)
não sei da justeza da ação e muito menos sei dos contornos legais, não sendo jurista, gostava que alguém da área se pronunciasse pois tanto julgo saber, desde os tempos de d. maria que o monopólio dos jogos de fortuna e azar está entregue à santa casa da misericórdia de lisboa, para pagar as suas obras caritativas. processo a ser analisado pelo excelso doutor relvas, master em direito sobre jogos de fortuna ou azar. o azar que nós temos...

ao promover a venda de rifas e sorteios com prémio julgo que o governo está a fazer concorrência desleal à scml, mas isso sou eu a pensar.
com este comportamento, o governo iguala o comportamento de qualquer direção do mais comum dos clubes desportivos de uma qualquer aldeia recôndita do interior do país que perante a necessidade de adquirirem umas chuteiras novas para o clube, patrocinam uma rifa e sorteiam um porco, um borrego ou uma vaca, vacas agora, não, que os tempos estão delas magras.

como as vacas (ou os bois, mas esses costumam ir à frente da carroça) estão magras, o governo sorteia bólides de alta cilindrada. azar o meu se me calhar, pois não tenho dinheiro para o suportar.
mas acho muito bem esta iniciativa, acho mesmo que o governo, à minguá do que fazer, podia mesmo dedicar-se à promoção de eventos populares.
deixo aqui duas ou três sugestões que podem fazer furor e toda a diferença em próximos escrutínios eleitorais.
talvez já vá tarde, mas é portuguesa a arte do desenrascanço, que tal o governo organizar em lisboa, capital do ex-império mas sem tradição na matéria, tradição que anda mais para ovar, mealhada, sines ou madeira, organizar, dizia eu, um majestático corso carnavalesco em lisboa?
logo de seguida e ganha a embalagem, também podia organizar, nos claustros da assembleia, o baile da pinha, ou pinhata, tradição pascoal.

lá para o pino do verão, em meados de agosto, podia organizar uma festa popular, daquelas onde vem os emigrantes todos, que agora voltaram a ser bastantes, com toiradas à vara larga, para não ferir os amigos dos animais, no campo pequeno, bandas filarmónicas a desfilarem pelas avenidas, novas e velhas, procissões, muitas procissões que o povo necessita ter fé, acompanhadas pelo inefável padre melícias, e ouvindo-se em altifalantes a voz declamatória do joão villarett, uma marcha da cgtp devidamente missionada pelo arménio carlos que o povo também necessita ter esperança e recordar as conquistas de abril, com serões abrilhantados por conjuntos de baile e pela meia noite a atuação de artistas populares, por exemplo, o quim barreiros, o tony carreira e o emanuel.

as senhoras de são vicente de palma fariam ótimos brindes para a quermesse, as senhoras do governo fariam as rifas que seriam vendidas no bazar por um paulo portas trajado de varina.

para o povo digerir tudo isto, um bufete com minis, sardinhada, febras e entremeada, torresmos e açorda.
bora lá, todos à festança, na qual, como costume, nem faltará a dona constança (a cunha e sá, não sei, parece muito elitista).
mas antes da abastança das rifas e dos carros que aí vem, lá diz o povo na sua eterna sabedoria "cautelas (lá está) e caldos de galinha, nunca fizeram mal a ninguém".