Litterae et una vita et idem.

A Literatura e a Vida são unas!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Ainda se morre de amor


Nestes tempos assoberbados pelos interesses materiais e pelo sucesso imediato, controlados pela rigidez das operações de somar e de subtrair que os génios da economia nos vão impondo perante a passividade geral, ainda vão acontecendo histórias de pasmar e que nos fazem ter esperança na humanidade, outra.
Vejam senão, a seguinte história que amigo meu me contou.
Vésperas de natal, numa pequena vila do alto alentejo, faleceu o último dos marialvas da terra e provavelmente dos restantes no país.
Sempre aprumado, calça justa de peitilho, camisa branca impecável, colete e jaqueta feitos por encomenda e medida. As faces toldadas por vastas patilhas, barba sempre feita no resto da cara. Aos pés, bota ou botim, bicudos e de salto, em cabedal moldando-se ao próprio pé. A cabeça guarnecida por largo chapéu, preto ou castanho de acordo com a disposição geral, daqueles que dizemos “à lavrador”.
Se teve vida folgada e milagrosa, só ele o saberia e esse como outros segredos levou-os de companhia para a cova.
Do que se sabia na vila é que foi homem de muitas vidas, umas mais claras que outras e de amores mais de milhentos.
Corre, no entanto, que a dois foi fiel: à esposa, imposta pela família e sociedade e a uma amante por quem se terá apaixonado ainda ambos no dealbar da adolescência mas que nunca consumaram esse amor em boda e filhos por imposição familiar e social, ou outros segredos que só deles são pertença.
Ora, falecido o cavalheiro, eis que a dita amante se apresenta no portal da igreja matriz para velar o finado amante, amor de toda uma vida tudo menos clandestina.
Conta o amigo meu que familiares, até na morte a família e a conveniência social se nos fazem sentir, terá impedido o acesso a tão nobre e pio ato.
Afastou-se então a dama daquele lugar soturno, já abalada nos seus sentimentos e meia hora não era decorrida, fraquejava, derramada pelo chão, morta.
Da carteira quase vazia, caía, dele uma fotografia.
Ainda se morre de amor.

Jaime Crespo


sábado, 19 de janeiro de 2013

nota semibreve em fado maior


o fado, mais que uma expressão musical, é uma filosofia! 
expressa vivência sobre o passado, reflete sobre o presente e projeta o futuro.
engloba toda a dimensão humana: o seu esplendor e glória, as suas misérias e humilhações, suas forças ou fraquezas.
o fado, é a filosofia de vida do povo português!





 http://youtu.be/7PbZF8enCVE