Pequeno ensaio de como escrever com prazer e para vender
Análise a partir das obras: “o último papa” e “a mentira
sagrada”.
Os tempos em que se discutia o cânone literário à mesa dos
cafés e nos botequins de Lisboa, Porto e Coimbra, por vezes terminando essas
discussões na rua à bengalada, ou em menor caso, o assunto não era para tanto,
na bazófia do duelo, já lá vão mas os puristas continuam por aí, melhor ou pior
instalados, tentando impor aos outros o seu gosto leitor.
Não sei se o prazer, prazer em escrever, é motivação primeva
a todos os que exercem e cultivam o ofício das letras, sem querer ser
arrogante, para mim, esse estado, prazeroso, é a base de todo e qualquer texto
literário. E desconfio que o prazer de foder os outros também está por detrás
da escrita legislativa…
Se o comité Nobel recusou o prémio a Raymond Chandler
apodando-o de “ser um escritor de policiais”, pior se desculparam a James
Joyce, alegando em favor da recusa do prémio, tratar-se de um escritor marcado
“pela inovação e pioneirismo na literatura”…
Portanto, o melhor é que cada qual leia o que lhe interessa e
deixe as doutas opiniões para os enfatuados das academias.
Determinados assuntos foram deixados de parte, eram teoria da conspiração, alegavam uns, mentiras depravadas, outros. Estou convencido se "a bíblia" fosse escrita hoje, o autor não encontraria editor...
De tal sorte que não sei quando a intriga, o romance, a
traição, o crime, etc. que sempre constituíram a farinha, o sal e o fermento da
urdidura literária, passaram a merecer o desprezo de todos os cânones.
A um amigo que escrevia razoavelmente bem, perguntei porque
não se aventurava a escrever um livro? Respondeu-me que todos os temas estavam
esgotados desde os gregos.
Os temas talvez, que não a indomável vontade de escrever, a
não ser assim, Shakespeare, que não era grego, seria um perfeito desconhecido.
O que é certo, é que os romances de intriga, traição, crime,
foram banalizados e durante tempos apenas se consideravam para o ato literário
os assuntos sérios, criando-se assim uma literatura aborrecida de morte.
Em boa hora, outros terão intentado sem obterem contudo
sucesso, Umberto Eco, com o seu “nome da rosa” vem recuperar para a liça este
género aviltado e abrir nova janela de oportunidades a escritores e leitores
sedentos de diversão.
Neste contexto, passado que foi o tsunami “o código Da Vinci”,
de Dan Brown, encontramos para melhor, em estilo, escrita, urdidura do romance
e sobretudo com uma tecelagem policiaria aceitável, enquanto em Brown essa tessitura,
de tão pueril chega a ser imbecilizante, o português Luís Miguel Rocha, oferece-nos
obras sólidas, com horas de boa leitura e diversão pegada, provando que se pode
escrever com classe e categoria sem que o assunto seja sério, a influência dos
discursos de barak Obama na alteração do clima, por exemplo, e ainda assim
construir literatura.
E espero, ganhar dinheiro.
Jaime Crespo
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