Litterae et una vita et idem.

A Literatura e a Vida são unas!

domingo, 22 de maio de 2011

Haruki Murakami, underground - uma leitura

Confesso que gosto deste escritor. Por isso volto a uma das suas obras. Ou será mais correcto afirmar que regresso a ele? Mas seja como for neste caso não se trata de mais do mesmo.
Aqui não temos o japonês cosmopolita que ouve o mesmo jazz e a mesma música clássica que nós. Imagine-se, até se delicia com elegantes e redondas chávenas de café cheiroso, cremoso, forte. Mantendo no entanto o quanto baste de áurea exótica para não ser totalmente como nós mas o bastante para o trazer por casa sem dar muito nas vistas e mantendo toda a gracinha.
Murakami, felizmente não é desses nem se dá a muitas concessões. Limita-se a ser como gosta, o que para ele deve ser descansadamente óptimo. Quanto ao resto, humano. Tal como qualquer um anseia ser em vez de salamandra esses bichinhos viscosos.
Escreve bem. Escreve mesmo muito bem. E isso atrai-me deliciosamente. Como às drogas irresistíveis. Fatal como o destino.
Ora neste livro encontramos um Murakami puramente japonês (o que é isso?) longe de mim tal blasfémia que sei que os artistas o são simplesmente. Do mundo.
Mas encontramo-nos com um Japão servido a sangue frio (in cold blood) sem margem para respirar fundo o ar mais quente.
Na sequência dos atentados com gás sarin, no metro de Tóquio, a 20 de Março de 1995, Haruki Murakami entrevista muitas das vítimas. Aquelas que se lhe disponibilizaram. E é esse relato, das vitimas, a seco que este livro contém.
Mais que o Japão ou japoneses do nosso catálogo de preconceitos ocidentais, ou das ideias pré-feitas orientais, é o Japão lugar também ele de seres humanos e de humanidade. É o ser humano em toda a dimensão do seu esplendor, para o bem ou mal, na alegria ou tristeza, na solidariedade e na vileza… que aqui nos é apresentado.
É servido a seco.
E como um martini também deve ser consumido em pequenos golos, lentamente, saboreando, deixando-nos invadir pelo prazer.
Não é uma metáfora é uma radiografia física e psíquica e da alma do Homem.
Mais que mais um grande livro obra de arte é de uma exposição nua da humanidade de que se trata.

P.S.: não sei explicar porquê mas acho que os realizadores das cartas de Iwo Jima leram este livro.

Orhan Pamuk, o meu nome é vermelho - uma leitura


Finalmente, devido a contingências várias, completei a leitura desta obra, quase três anos após ter iniciado a leitura.
Um dos fatores que terá atrasado esta leitura e não displicente foi o fato de ter mais tempo para saborear a intriga, o romance, a trama, as frases, palavra a palavra do manancial escrito.
De fato, para mim, foi uma das melhores obras que me foi dado ler nos últimos tempos.
E sobre ela o que poderei dizer mais que é uma delícia?
Pouco ou nada, tudo o que acrescentar venha só lhe retirará valor…
Poderei dizer que estamos perante uma obra que representará para a Turquia e o Oriente o que representou para o cânone literário ocidental "o nome da rosa" de Umberto Eco. E as afinidades são algumas. Apenas afinidades. Também esta obra coloca em confronto duas visões do mundo: a (pretensa) visão de Deus e o modo de ver profano, humano.
Quando todo o Ocidente europeu vivera o choque renascentista, se humanizou e se prepara já para enfrentar as Luzes, temos uma Istambul, capital do império Otomano, que se prepara para as celebrações do milénio (em anos lunares) da Hégira e cujos pintores se encontram perante o desafio a aceder a uma nova pintura, humana, como se pratica no Ocidente e lhes chegam notícias sobretudo através dos contactos com Veneza, e o apelo da tradição que manda pintar do mesmo modo, a visão de Deus, as coisas mundanas.
É um conflito duro, de levar à morte e perante o qual ninguém pode ter certezas sobre nada.
E é quanto a mim a principal dádiva que este romance fresco nos oferece: a dúvida.
Dúvida de como devemos dirigir a nossa vida, dúvida nas escolhas culturais a fazer, dúvida até perante o objeto do amor e que se ama.
Alegremo-nos, os tempos dos bons romances estão de regresso.

sábado, 21 de maio de 2011

quadra coxa nº 3

(recordando António Aleixo, fazedor de quadras perfeitas)

Sei que pareço um pintelho,
mas há muitos que eu conheço
que não parecendo: o coelho
é aquilo que eu pareço.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

quadra coxa nº 2


"não fiz na vida mais que um pintelho
'd' assim tenho reforma do caralho;
pra vê-la crescer juntei-m' ao coelho
indo  ele  fazer-me o trabalho."

Haruki Murakami, Kafka à beira-mar - uma leitura

Haruki Murakami

(ouvindo Miles Davis "Round About Midnight"; Patti Smith)

Confesso. Gosto da escrita deste gajo, porra! E depois já viram o sainete que não dá andar um mânfio, por entre as carruagens da linha de Sintra, com um livro de 1 Kg, ainda por cima escrito por um tipo japonês!!!
Mas pesporrices à parte Haruki Murakami escreve mesmo bem. Pelo menos, para o meu gosto.
O livro que vendeu muito, por vezes quando assim é, o caso é para desconfiar, mas não, Murakami prova afinal que se podem escrever bons livros que tenham venda.
Nestes casos, autor japonês, mas podia ser de outra proveniência exótica para os ocidentais, costuma gostar-se da cena por isso mesmo, pelo exotismo. Quanto a mim é aqui que Murakami ganha o jogo. Não deixando de ser japonês, nele podemos encontrar o substrato da sua "japoneidade", atinge um invulgar nível de cosmopolitismo que a mim me agrada, demonstrando que a abertura de espírito a outras culturas só nos faz é bem e com isso eleva-se a grau elevado no panteão da escrita.
Não vos vou contar a história pois tirar-vos-ía o interesse pela descoberta e
o desvendar do mistério, passo a passo. Mas sempre vos digo que lá podemos encontrar os sons das melodias que também nos embalam a nós. E não deixa de ser giro ouvir miles, bach, beatles, pela escrita japonesa.
Como nestas coisas convém sempre consultar uma segunda e terceira e quarta, tantas opiniões quantas seja possível, para quem tiver interesse e disponibilidade consulte o seguinte link que não dará o tempo por mal empregue:

provérbio primeiro


"A própria lança contra o próprio escudo"
Era uma vez... 
    Um país cujo povo não era racista. 
    Já imaginaram Pátria assim? Tamanha e com tanta tolerância? 
    Pois é. Até custa a crer em tal coisa. 
    Que era dádiva divina, dizia o povo. 
    O povo de que vos dou notícia, havia, em tempos remotos, sido um dedicado retransmissor da fé divina, a verdadeira, a católica, a apostólica, a romana, que espalhou pelos quatro cantos da Terra, abandonando os seus lares a troco de nada. Apenas aguardando a salvação. Futura. 
    Em compensação, porque nestas coisas da fé tal como na vida em geral as compensações são sempre matéria a ter em linha de conta e nunca devem ser descuradas sob a ameaça de para sempre nos penitenciarmos, o Deus verdadeiro glorificou este povo dotando-o em generosidade e benevolência para com todos os outros povos. 
    Ao fim e ao cabo todos somos filhos de Deus, ou não será assim? 
    Nesta confraria de bondade apenas se levantavam algumas dúvidas e muitos obstáculos para com os Mouros, os Judeus, os Índios (de ambas as índias), os Pretos, os Ciganos, os Imigrantes, qualquer espécie de transumantes ou tendentes ao nomadismo, marca de primitivismo dos povos e como se sabe pouco católica, e os Pobres. 
    O curioso da história é que este povo era um povo de mouros, judeus, índios, pretos, ciganos, imigrantes, emigrantes, apresentava um elevado grau de transumância crónica e ancestrais tendências nómadas, por detrás da fachada católica habitavam mais as seculares tradições pagãs, e mais, era sobre todas as coisas um povo essencialmente pobre. 
    Pobres de espírito! 
    Como acabou a história? Bolas, isso já vocês deviam saber! 
    Felizmente ao contrário do afirmado por doutas sapiências, a História ainda não acabou, nem mostra sinais de envelhecimento. 
    Mas caminha para um final triste: AUTODESTRUIÇÃO! 

uma quadra solta... e coxa


passar de bestial a besta
aqui neste país:
vai do instante da vespa
ao "ai!" que ele diz..

terça-feira, 10 de maio de 2011

1º de Maio anticapitalista em Setúbal

Não negociamos a escravidão
a vida é nossa não é do patrão

o povo unido
não precisa de partido


No dia 9 de Maio de 2011 02:05, Terra Livre <terralivre.setubal@gmail.com> escreveu:
Aqui está o vídeo que durante a última semana foi recolhido e editado. Utilizaram-se as caixas de texto para cobrir as caras, visto que estas durante a manifestação estavam descobertas e porque sabemos como funciona o aparelho repressivo.
Não disparámos armas de fogo, não fomos em formação “bloco-negro”, não causamos distúrbios, não partimos vidros, não destruímos carros… nem nenhum dos outros delírios. Houve sim fogos de artifício e frases pintadas pelo caminho.
No final do vídeo é óbvio, pela posição da câmara, que a polícia adoptou uma postura ofensiva para acabar violentamente com uma manifestação que já tinha acabado. É criada uma ratoeira para a qual somos atraídos e a partir daqui a polícia agrediu todos os que encontrou pela frente.
Ao serem posicionados agentes da polícia numa parte do Largo e depois de ser feita a comunicação, no momento em que chega a carrinha da BIR pode então começar o ataque planeado contra os que permaneciam por ali. Durante a parte em que a câmara corre na direcção da carrinha da BIR já decorria a agressão por parte da polícia (que se pode ver entre dois carros a espancar manifestantes que estão no chão) e ouvem-se os primeiros disparos para afastar os manifestantes que só nesta altura se insurgem contra a atitude policial, não a sua presença!
Faltam-nos imagens desse ângulo e convidamos aqueles que eventualmente as terão a contribuir para o arquivo que se criou para cobrir as consequências desta manifestação.
O que se segue é muito incompleto, as repetidas cargas, os disparos, os abusos, as humilhações, os espancamentos e as caçadas da polícia que levaram muitos dos manifestantes a corridas contínuas até ao outro lado da cidade não estão filmadas.
Mais informações e contacto em:
www.terralivre.net
terralivre.setubal@gmail.com
links: http://terralivre.eu/blog/?p=98
http://www.youtube.com/watch?v=ngMyjZVOG4U